quarta-feira, 1 de setembro de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O MENINO QUE GANHOU UM RIO.
 
Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia, o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe compraria rapadura ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma rapadura do mascate .
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do meu irmão ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera ao meu irmão e achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens do meu rio e de noite eles iriam dormir na árvore do meu irmão.
Me irmão me provocava assim: a minha árvore deu flores lindas em setembro.
E seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!

Manoel de Barros.
"Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que
tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito e eu não consegui
pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso
carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos
deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria
das idéias e da razão pura. Especulei filósofos
e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande
saber. Achei que os eruditos nas suas altas
abstrações se esqueciam das coisas simples da
terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo
— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei
um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E
meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi."

Soberania. (Manoel de Barros).
Publicado em abril 6, 2010 por Domingos Sávio

sexta-feira, 18 de junho de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Scenic World

the lights go on
the lights go off
when things don't feel right
i lie down like a tired dog
licking his wounds in the shade

when i feel alive
i try to immagine a careless life
a scenic world where the sunsets are all
breathtaking

- Beirut-

segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Memorial

Não escrevo pra alguém ou qualquer coisa
Nem tampouco sobre alguém.
Escrevo pra germinar saudades.

Memórias, estas, que me são tão caras.
Nao existe forma melhor de se eternizar um ano inteiro
Que um dia após o outro.

Uma frase ou, até mesmo, uma única palavra
Cristalizam um estado de espírito.
Viva a posteridade!

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domingo, 18 de abril de 2010

Delicadeza sim!

Um porte altivo e o timbre melodioso
Força de Ser travestida
Na brandura do corpo esguio.
Sim! Algumas pessoas são mesmo assim.

Como que tropeçassem em vãos
Daqueles céus de cumulus congestus.
E pronto! Agora caídos flanam por aqui
Amenizando a aspereza de nossas visões da vida.

A delicadeza é economia pra intensidade
A sátira dissimula a defesa e o vazio nada supre.
Ceda! Não querer não impede que se seja.
São tantos os que são sem querer ser.

E posterior a todas alusões gratuitas porque merecidas.
Confesso que me apraz o antes:
Menos custoso e mais doce.
Só pena! Que, por hora, também já se distou.

domingo, 24 de janeiro de 2010

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Gastronomia



Comer damascos

Como a pele mais sedosa de ti

Perlage do seu cheiro em meu nariz

Alegra e traz apreçadas memórias

Sempre!



Cozinhar é como doar

Pequenas porções de mim

Poções de encantamento

Como uma maça do amor

Comigo dentro!

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sábado, 23 de janeiro de 2010

I've done just about all trying to care about everyone

else except me


I'm going forth to buy me some candy


On a saturday night


Oh I make it so hard gettin clear about


what it is I want me to do


One day I'll get myself out in the sunshine


Then I'll get rid of the blues


. . . Candy - El Perro del Mar . . .

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"Nos anos, 50, minha mãe bebericava poncho em suas reuniões dançantes.

Nos anos 70, minha irmã virava Martini com azeitona na discoteca.

Hoje a moda parece ser vodka e Red Bull nas baladas.

Estou somente comentando as drogas lícitas. Cada geração sofreu os efeitos colaterais do que consumiu antes da maioridade.

Peguei a safra mais careta do bar. Nos anos 80, eu bebia Keep Cooler nas festas de garagem. Não representava bem álcool, muito menos motivava a sair da timidez. Era o travesti de um refrigerante.

Guardo o gosto açucarado da bebida na língua. O Kiwi é eterno.

Lembro que rendi piada para muitos colegas. Aos doze anos, amigos anteciparam que Cláudia estava a fim de mim, só eu não percebia. Fraudaram bilhetes que pousaram em minha mesa na aula. Estranhava a generosidade popular pelo namoro. Quem não tem nada acredita em tudo. A guria veio para o meu aniversário. A turma batia em meus ombros:

- Parte em cima dela antes que seja tarde.

Ela estava com polainas e um casaco brilhante, uma combinação adequada para o brechó do período. Naquele tempo, a sensação é que todos usavam roupas emprestadas, colhidas ao acaso nas gavetas dos pais.

Suas franjas aumentavam as bochechas. Os brincos de argolas esperavam aias para serem carregados. Ela tinha lábios carnudos, transparentes.

Na maioria das vezes, minha coragem foi emprestada. Eu me aproximei e a convidei para dançar. Esqueci que não sabia dançar. Achei que fosse fácil, mas na hora não conseguia cantar e coordenar os passos. Se tivesse que dançar o hino nacional esqueceria a letra. Alguns já esquecem mesmo parados. Ela indicava os pés, eu embaralhava os joelhos. No fundo do quintal, com um globo improvisado de luzes, remexia num ritmo que somente eu ouvia. Distorcia, arranhava o compasso.

Demorei a me aproximar do pescoço de Cláudia, mais ainda para segurar sua cintura. Depois de um longo e silencioso ecoturismo em suas costas, tomado da respiração balouçante, arrisquei um beijo. Pulei como um cego ao seu rosto. Ela colocou as duas mãos em meu peito e pediu distância. Qualquer um entendeu como um empurrão.

- Não quero qualquer coisa contigo, Fabrício, somos amigos.

O fora surgiu no fim da música. Exatamente no último acorde. Sua voz ecoou pelo corredor, como um playback desmascarado.

A roda de impostores ria aos berros. Acompanhava nosso giro, torcendo pelo movimento de repulsa. Encarnei aposta, sofri zombaria e, por culpa do keep Cooler, não perdi a ingenuidade.

É um vício necessário. Talvez o que faço melhor. Fico pronto para me despedaçar.

Não estou sozinho. Recebo companhia a cada minuto na nau dos insensatos.

No amor, em algum momento, você terá que ser ingênuo e acreditar. Terá que largar uma vida, refazer sua vida. Terá que abandonar a filosofia pessimista, a inteligência solteira do botequim e se declarar apaixonado. Terá que ser incoerente, contradizer fundamentos inegociáveis. Terá que rasgar a certidão negativa, a proteção bancária, os manifestos de aversão ao casamento e filhos.

Não dá para ser esperto sempre. Não dá para ser experiente sempre. Don Juan e Casanova também se quebraram. Napoleão e César também foram derrotados na intimidade. A ingenuidade é um poder terapêutico. Nada pode ser mais traumático e mais libertador dos costumes. É um instante definitivo e raro no relacionamento. Quando confiamos que será diferente, que somos eleitos por uma constelação de símbolos e casualidades, quando desistimos das armas e das reservas para se apresentar absolutamente disponível e vulnerável. Não há mentiras e formalidades, frases espirituosas e comentários sarcásticos. Há apenas uma burrice infindável, o beiço e a intenção de se entregar para uma mulher seja como for.

Pena que a ingenuidade tem que acabar mal. Caso contrário, não era ingenuidade, era sabedoria."

Fabrício Carpinejar

http://carpinejar.blogspot.com/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

No meio do nada hesita o instante:
... o nada
... o instante...
... o nada.
E o nada nada mais é do que tudo
Aquilo que nao podemos dizer sobre algo.
Vinda.
Registro...
E ida.
Basta a reluta do instante
Pronto! A fuga do nada!
...ou pelo menos da repetição do irrelevante!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

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Nomeação



Não me atrevo verbalizar o que passa
Não me é devido
Seria como num golpe hesitado
Fulminar as expectativas mais lúdicas.


Sim! Se me dizem da sua cabeça
Sim! Se seria fácil amar
Até a "pessoa sua" que mais renega
Mas! Não! Não me cabe o partido.


Falar é dar forma
E moldar é trazer ao real
Sim! Se em mim já confirmado
Não! Se me for preciso comunicar-te.

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